Santa Barba é uma performance poético/musical de cunho auto/biográfico defendida por uma entidade drag clownesca num cabaret imaginário.
O artista Paulo Pinto abre seu coração, álbum de memórias de des/afetos, para embalar sua criança vi(ol)ada, desabusando silêncios, encarnando o sonho libertário de uma diva bicha velha mística, que ao rememorar clássicos da MPB abraça o improviso como sua pequena/grande revolução.
Santa Barba é uma vida/diva que vingou para vingar pessoas que não vingaram na vida por inúmeras violências que ainda atravessam o cotidiano.
Memória
Santa Barba é uma performance poético-musical experimental que tem por base memórias afetivas associadas à música popular brasileira. O performer Paulo Pinto, em parceira com os amigos músicos amigos, dá corpo à entidade que performa confidenciando alegrias e dores existenciais, contando/cantando para o público histórias auto/biográficas, que impactaram sua vida, inclusive de outras crianças e mulheres vi(ol)adas mortas, algumas no período da ditadura brasileira, quando nasceu. Para romper com a dor dessas memórias, cria um clima de intimidade ao improvisar o imaginário de um cabaret decadente.
Santa Barba é uma espécie de ex-voto não binário encarnado como oferta perene a uma graça chamada liberdade. É uma Santa (Barba) num relicário fora do armário, que nasce para celebrar a vida, bendizer amores, dores; abençoar passados, presentes, futuros, desfazendo nós, refazendo laços, costurando corações/almas em corpos alados.
Ao desabusar silêncios, Santa Barba promete, como bênção, trazer o amor próprio (seu e do público) de volta em poucas horas.
Santa Barba mergulha livremente em referências performativas diversas da cultura brasileira: Carmen Miranda, Clóvis Bornay, Elke Maravilha, Ney Matogrosso, Rita Lee, Frenéticas, Doces Bárbaros, Novos Baianos, Pessoal do Ceará, Luiz Gonzaga, Elba Ramalho… que intuitivamente embalam a composição da ação, ativando afeto, nostalgia, anarquia.
Santa Barba é um projeto que nasce em 2017 quando da pesquisa do performer Paulo Pinto no doutoramento na FBAUP – Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, desenvolvido em parceria com os amigos músicos da Bahia e Pernambuco, tendo realizado apresentações em cafés, espaços culturais e eventos do Porto, Coimbra, Guimarães, Cerveira e Viseu, em Portugal, e Recife, em Pernambuco, Brasil.
É uma Santa encarnada num corpo dissidente, não-binário, obeso, de meia idade, estrangeiro, do Cariri cearense, sertão do nordeste brasileiro, que vem partilhar memórias de suas resistências como criança viada, abusada sexualmente e moralmente, no período da ditadura militar. Seu corparquivo evoca as vidas de outras crianças, lgbts e mulheres que não vingaram, diferente do seu que pelo silêncio sobreviveu.
Santa Barba é uma vida que vingou para vingar pessoas que não vingaram na vida por inúmeras violências que ainda atravessam o cotidiano.